Jeitinho tem tradução pra inglês ver. Acha que é mentira? Olha aqui então!
Pois vou te contar, tchê! Mais de uma vez eu me deparei com vergonha de ser brasileira.
E não é porque todo mundo acha estranho (mas melhor nem comentar) que eu não sou mulata, alta, gostosa, ando semi-nua e entro nos lugares sambando. Não, não é por isso mesmo.
O meu problema é com o jeitinho brasileiro mesmo. Sabe?
Minha questão é saber como vou explicar pro casal francês que self-payment (sim, caixa de supermercado sem a mocinha com maquiagem mal feita e coque do Zaffari) nunca funcionaria no Brasil. Um local onde tu passa o código de barras dos teus produtos, coloca-os numa sacola, paga (com cartão ou dinheiro) tudo que tu colocou na sacolinha e sai? No Brasil? Xuxu, acho que estamos no caminho errado!
Como explicar que o Brasil é maior que quase toda a Europa junto e não um pedacinho da Espanha onde dançam salsa? É, eu falo portugues, tchê!
E como explicar pro meu amigo suíço que o salário mínimo no Brasil é 100 euros (e que tem gente que sobreVIVE com isso?!) contrapondo com os 3000 euros no país dele? Ahh mas no Brasil, deve ser que nem na Suiça, existe o mínimo mas todo mundo ganha mais! Não, babe. País inteiro ganha isso.
Como explicar pra menina de 14 anos que estudou favelas brasileiras na escola que não é porque as favelas são ilegais que o governo não ajuda? Como explicar pra ela que a ilegalidade das favelas é o menor de todos os problemas enfrentados? Como explicar que, no fundo, é tudo uma questão de perspectiva e que se tu (teoricamente) dá água, luz, colégios, postos de saúde e policiamento, o local não pode ser considerado ilegal. E se o fosse, por que mantê-los lá?
Ok, até eu me perco onde começa essa história, desculpa. Imagina explicar pra adolescente escocesa, que tem um telefone que vale mais que meu computador de trabalho, que a vida na favela é bem pior que ela imagina depois da aula. Pior, gata, um pouco pior do que esse pior que tu imaginou.
É complicado tentar resumir o Brasil sem apelar pro futebol, samba, caipirinha e verão eterno.
Moro em Dennistoun, um bairro não muito rico, razoavelmente perto do centro. Moro numa das avenidas principais, parada de ônibus na frente do prédio, vizinhança tranquila, cheio de cabeleleiros, brechós beneficentes e lochinhas paquistanesas (isso será descrito em outro capitulo, em breve, prometo). Da minha rua pra cima, em aproximadamente dez quadras, a zona é cabulosa. Sem comércio, com pombais enormes e um solitário caminhão de sorvete passando. Só faltou aquela bolona de palha que rola nos filmes de faroeste pra eu achar que tava numa terra sem lei.
Quando falo que moro aqui, muita gente fica meio ressabiada e pergunta se não acho muito perigoso. É uma das piores partes da cidade, creio eu. E sim, nas ruas e nos ônibus sempre encontro muitos NEDs (non educated delinquents) e eles não me parecem boas pessoas pra puxar um papo às 3h da madrugada numa rua deserta (tá, tá, tá! Ninguém é boa pessoa pra puxar assunto no meio da madruga, eu sei!). São os hooligans escoceses, uma gangue foda, perigosa e mal encarada que prefere roubar, matar, bater, beber, gritar, esfaquear e morar perto de mim, no meu bairro. Carai, mano! Perigo a vista?!
[ABRE
Pequeno adendo estatístico
Glasgow é conhecida como a capital mais violenta do Reino Unido, com seus quase 600 mil habitantes, tem praticamente um milhão a menos do que Porto Alegre. Ok, pra análises essa comparação não vai dar certo! A capital gaúcha tem quase 3 vezes o número de habitantes da capital escocesa! Vou pegar todo o país dos caras de saia, tá? Ahhh (mas alguém vai dizer) vai comparar um país com uma capital nem tão grande do Brasil? Lógico que a Escócia vai perder!
Bem, segundo uma reportagem veiculada no site do governo escoces (vê aqui), em 2010-11, houveram noventa e sete assassinatos por aqui. Sim, 97. Num ano inteirinho. Num país inteirinho. Com 5 vezes a população da capital amada e adorada dos gaúchos.
Segundo o Correio do Povo, somente Porto Alegre (sozinha? Sim, sem Viamão ou Gravataí) em 2010 teve quinhentos e dezoito mortes (matadas, não morridas). É, 518. Num só ano. Numa só cidade. Na minha cidade, por sinal.
É, velho, a Escócia perdeu afú! Alvorada, a (pequenina) cidade sem lei, com seus 220 mil habitantes, teve 85 mortes contra 59 em Glasgow, a (enorme) megalópolis econômica.
Quem quiser ler mais sobre as estatísticas brasucas, recomendo essa matéria do Sul 21 que na real só descobri depois de acabar o post!)
FECHA]
Daí me perguntam se eu não acho perigoso morar em Dennistoun, perto dos NEDs (lembra deles, lá em cima? Aqueles caras que eu não ia conversar nem chamar pruma cerveja)? Não, tchê, tu não tem noção do que é perigo!
E dai, me ajuda aqui! Como é que vou explicar que o Brasil não é tão lindo como parece para alguém que acha que 97 assassinatos por ano é uma estatística absurda para um local menor do que o meu amado Rio Grande do Sul?
Como vou contar tudo o que os políticos no meu país fazem com meu povo?
Como explicar que tem milhares de pessoas morrendo de fome, crianças sem roupa, mães sem água, famílias sem casa, trabalhadores sem dinheiro por causa do JEITINHO BRASILEIRO?
Mas Márgara, por que ninguém faz nada pra acabar com a corrupção?
SIMPLESMENTE POR QUE NÃO CONSEGUIMOS!
Muitos tentam, se esforçam mas sempre esbarram no cara da frente da fila dando um jeitinho. Ou no bar. Ou no pedágio. Ou no colégio do filho. Ou no ônibus. Ou na blitz. Ou no estádio. Ou na lojinha da esquina. Ou em todo o lugar. Em todo o país.
E claro, conheço muita gente boa e honesta fazendo sua parte, um pouquinho, sem jeitinho, mas com muito jeitinho. Aquela coisa da gota dágua pra salvar o mundo? Faço, fazemos, fazem. Todos fazem. Todos tentam transformar um pouquinho o país que vivemos, as crianças que criamos, nos exemplos que damos.
E é pouco, amigo europeu. Sabe porquê? Porque o Brasil é um país enorme, cheio de culturas diferentes, paisagens lindas, mulheres maravilhosas, homens deslumbrantes, praias exuberantes, florestas e cachoeiras fabulosas, e muita gente bonita, elegante e sincera.
Dai chega a parte triste, que é disvirtuar o assunto quando eu não acho palavras pra fazer essa gente entender que o Brasil não é bonito por natureza. Ele só tem uma natureza bonita.
E agora pode me chamar do que quiser: mal amada, recalcada, mal agradecida, ignorante, puta, vadia, vendida, louca, fazida, cheia, deslumbrada, cadela, feia, boba e chata.
Sou. Sou tudo isso e muito mais.
Sou gaúcha. Sou brasileira. Sou sulamericana.
Sou apaixonada pelo meu país, pelo meu estado e pela minha gente.
Mas só quando tu tens que explicar o inexplicável que tu percebe que nem tudo são flores.
Sou gaúcha e brasileira e não me envergonho da minha nacionalidade.
Eu só me envergonho realmente do jeitino brasileiro de destruir o nosso país.
Só isso. Me ajuda a explicar?
20111214
20111119
bobices [ 08 ]
Das pequeninas felicidades da nova vida:
Proprietária do flat veio agora com o engenheiro ver banheiro e teto que serão reformados (hmmm isso me lembra alguma coisa..). Ela tem um dos sotaques mais glaswegianos que eu conheço por aqui: muito rápido, carregado, cheio de gírias e de palavras comidas. Certo que se fosse brasileira, seria gaúcha do bomfa nascida em Beinto.
Entendo 65% da conversa dos dois e mais de 85% quando ela fala só comigo!
Pode achar baixo o índice, mas da primeira vez que a encontrei, se consegui entender 17% de tudo que ela falou foi muito!
Obrigada, cursinho de inglês cheio de gente estranha dessas festas esquisitas!
Proprietária do flat veio agora com o engenheiro ver banheiro e teto que serão reformados (hmmm isso me lembra alguma coisa..). Ela tem um dos sotaques mais glaswegianos que eu conheço por aqui: muito rápido, carregado, cheio de gírias e de palavras comidas. Certo que se fosse brasileira, seria gaúcha do bomfa nascida em Beinto.
Entendo 65% da conversa dos dois e mais de 85% quando ela fala só comigo!
Pode achar baixo o índice, mas da primeira vez que a encontrei, se consegui entender 17% de tudo que ela falou foi muito!
Obrigada, cursinho de inglês cheio de gente estranha dessas festas esquisitas!
bobices [ 07 ]
Vou no super comprar vinho pra festinha. O guardinha me comprimenta duas vezes. Achei que é porque estou cantando e dançando enquanto escolho a melhor uva (Merlot chileno é a pedida!). Vou pagar e a mulher do caixa fala alguma coisa ininteligível:
~ Desculpa, não entendi.
~ Identidade, por favor.
~ Tá brincando né?
~ Não.
Ah tá que a tia do caixa quer comprovante de idade. Tá de saca, né????
~ Sério mesmo?
~ Sim, tem identidade?
~ Só tenho minha identidade brasileira, pode ser?
~ Sim, pode.
Cato na minha carteira, entrego pra ela e ouço um "OH GOD!" e um sorrisinho.
~ Tu não sabe o quanto me fez feliz hoje!
Saio mais dançante, mas cantante e mais sorridente do super.
Obrigada, tia do super!
~ Desculpa, não entendi.
~ Identidade, por favor.
~ Tá brincando né?
~ Não.
Ah tá que a tia do caixa quer comprovante de idade. Tá de saca, né????
~ Sério mesmo?
~ Sim, tem identidade?
~ Só tenho minha identidade brasileira, pode ser?
~ Sim, pode.
Cato na minha carteira, entrego pra ela e ouço um "OH GOD!" e um sorrisinho.
~ Tu não sabe o quanto me fez feliz hoje!
Saio mais dançante, mas cantante e mais sorridente do super.
Obrigada, tia do super!
20111114
Heineken Cup, não um copo de heineken!
Hoje eu queria falar de futebol mas é tão lugar comum, tão clichê e tão dolorido falar disso sem lembrar que estou a quilhardares de quilômetros do meu Gigante que resolvi falar de Rugby, minha nova paixão nacional. Não, não é por causa das coxas de fora nem dos ombros largos muito menos daqueles bíceps e tríceps maiores do que minha beerbelly. Não, juro que não é só por causa disso.
Ontem fui no Firhill Stadium, a casa dos Glasgow Warriors, o maior time de Rugby de Glasgow (e único profissional). Fui ver um jogo válido pela Heineken Cup (não, eu fui pelo jogo, não pelo patrocinador, ok?) contra o Bath Rugby (que além de ser inglês não é nada criativo no nome visto que é um time de rugby da cidade de Bath).
Olhando pra foto da esquerda pra direita: Glasgow Warriors + Juízes + Bath + galera amarela reserva do Bath
(Sei que não é legal repetir comentários do Facebook mas: Pai, tá todo mundo de azul, pode torcer pros de verde??)
Pois eles tem uma coisa muito maneira aqui, tanto pra fusbal quanto pra rugby: eles abrem só metade do estádio quando não é jogo grande pra galere ficar juntinha, gritar e os gritos ecoarem do mesmo lugar. Inteligente, né, não?
Bem, antes de tudo, no momento dessa foto o estádio todo tava em um silêncio que dava medo de respirar pra não fazer barulho. Sério, mais de 4 miles pessoas totalmente no MUTE ON por que era o minuto de silêncio. OPA! OPA! OPA! Minuto de silêncio e as pessoas ficam em silêncio? COMASSIM, TCHÊ?? Poisé, na sexta-feira, November 11th, eles comemoraram o Remembrance Day: um dia em que eles honram e lembram todos os mortos em guerras desde a 1a Guerra Mundial. É um dia mega importante em vários países e todos usam uma flor vermelha na lapela (ou para os moderninhos na mochila, no cabelo, na gola, no boné, na jaqueta) chamada Poppy.
Voltando ao jogo que era o que eu queria falar, esqueci de contar uma coisa: quando o time adversário entrou em campo todo mundo aplaudiu de uma maneira bem polida. Nada de vaias, nome feio, falta de respeito. Achei estranho mas melhor nem comentar, mas quando estávamos procurando nossos lugares tinha uma placa "NÃO FALE PALAVRÕES" e pensei comigo: dã que alguém obedece isso! Velho, não ouvi um palavrinho, imagina um palavrão! Serinho!
Ontem fui no Firhill Stadium, a casa dos Glasgow Warriors, o maior time de Rugby de Glasgow (e único profissional). Fui ver um jogo válido pela Heineken Cup (não, eu fui pelo jogo, não pelo patrocinador, ok?) contra o Bath Rugby (que além de ser inglês não é nada criativo no nome visto que é um time de rugby da cidade de Bath).
Olhando pra foto da esquerda pra direita: Glasgow Warriors + Juízes + Bath + galera amarela reserva do Bath
(Sei que não é legal repetir comentários do Facebook mas: Pai, tá todo mundo de azul, pode torcer pros de verde??)
Pois eles tem uma coisa muito maneira aqui, tanto pra fusbal quanto pra rugby: eles abrem só metade do estádio quando não é jogo grande pra galere ficar juntinha, gritar e os gritos ecoarem do mesmo lugar. Inteligente, né, não?
Bem, antes de tudo, no momento dessa foto o estádio todo tava em um silêncio que dava medo de respirar pra não fazer barulho. Sério, mais de 4 miles pessoas totalmente no MUTE ON por que era o minuto de silêncio. OPA! OPA! OPA! Minuto de silêncio e as pessoas ficam em silêncio? COMASSIM, TCHÊ?? Poisé, na sexta-feira, November 11th, eles comemoraram o Remembrance Day: um dia em que eles honram e lembram todos os mortos em guerras desde a 1a Guerra Mundial. É um dia mega importante em vários países e todos usam uma flor vermelha na lapela (ou para os moderninhos na mochila, no cabelo, na gola, no boné, na jaqueta) chamada Poppy.
![]() |
Poppy é o símbolo desse dia pois é a única flor que brota nos campos ensangüentados de batalha. Sim, eu usei uma durante toda a semana! |
Conversa vai, conversa vem, o jogo tava tri chato, vou ser sincera. Era um todo mundo se agarra, pára o jogo, todo mundo se empurra, pára o jogo, todo mundo volta pro lugar, todo mundo se agarra, pára o jogo, todo mundo se empurra, pára o jogo, todo mundo volta pro lugar. Comento com meus guris (na foto ali embaixo junto com geral dos Warriors) isso e só fico pensando na galera bebendo uma ceva sem álcool perto de mim bem feliz.
É, eu sei, domingo de manhã (sim, o jogo foi às 12h45) meu cérebro não pensa direito (não que ele pense durante o resto do dia mas de manhã é sempre pior): HEINEKEN CUP = COPA DA CERVEJA!
Quando me dei conta disso, naturalmente (e foi coincidência, hein?) o jogo ficou pegado! É penalti pra cá, try pra lá, scrum acolá e outras jogadas mais legais. Pode pensar o que quiser, mas nem bebi ainda e o jogo melhorou!
Quanto tempo dura cada tempo? 40 minutos!
Bééééé apita o árbitro e lá vamos nós pro bar!
Não sei o que mais me assustou quando achei o bar:
* quatro filas organizadas em cada caixa esperando sua vez pacificamente (quem vai a estádio sabe que 4 + filas + organizadas + mais de um caixa + pacificamente são coisas impossíveis de se colocar numa mesma frase ainda mais no intervalo!).
OU
* quatro torneiras diferentes de chopp com álcool e uma quantidade que nem prestei atenção de uísques, licores e conhaques (alô, CBF?!?! Alô, Pinel?!?!).
Olha, vou te contar: achei o paraíso na terra esportiva! Tô feliz, viu? Um pint de Best, please. Cheers!
Lá estou eu, feliz e contente com minha cervejinha quando aparece o sol! Tá de brincadeira comigo, né? Sol + cerveja + estádio lotado + jogo emocionante? Meu (novo) time (de rugby) vai perder, só pode! É muita coisa boa pra ser verdade num domingo só!
Ahh se eu ganhasse um centavo por cada previsão que eu faço... Era o último minuto de jogo e estávamos perdendo de 19-21 e aqueles putos estavam lá se agarrando de novo! Aff! Pois fechou 80min de jogo e estavam todos lá, embolando o meidicampo! Tá, acabou, vambora. Tava bom demais pra ser verdade mesmo.
E eis que surge mais uma jogada, nos segundos de acréscimo e não é que os filhasdaputa (upsss! não pode falar palavrão, guria!) fazem um TRY MAGNÍFICO e VIRAM A PARTIDA?!!?!?
Vai toda a juizada de verde pra televisãozinha conferir a jogada e apita: VITÓRIA DOS GLASGOW WARRIORS!
Todo mundo se abraça, sorri, vibra e grita. Ouço comentários sobre o jogo, sobre a copa e o mais legal de tudo: eu entendi o que aconteceu! Obrigada, Pierre, pelo workshop à jato de rugby na fila do bar!
Sabe? Rugby não é só um monte de brutamontes se agarrando, não. É mais um esporte afudê, isso sim!
E concordo e muito com o que diz o velho ditado:
E concordo e muito com o que diz o velho ditado:
Football is a game for gentlemen played by hooligans.
Rugby is a game for hooligans played by gentlemen.
Garçom! Passa a régua e fecha a conta! Meu dia não precisa de mais nada!
Sim! A vida pode dar uma reviravolta e transformar a perfeição num momento mágico!
Sim! A vida pode dar uma reviravolta e transformar a perfeição num momento mágico!
Sim! Eu sei que é um monte de bobagem e que nada disso tem real valor na vida!
Sim! Eu sou completamente apaixonada por esses pequeninos e quase que insignificantes momentos de irrealidade.
E sim, pode me chamar de boba. Sou boba e admito, mas boboca é quem deixa passar esses pedacinhos inadiáveis de felicidade.
Cheers!
20111031
bobices [ 06 ]
Estou esmagando abóboras ouvindo Smashing Pumpkins, sou clichê?
Hesam Sim. Eu sou um livro. :D
Márgara hahahahahaha are you a book, hesam???
Hesam :D. I don't know. I just wrote something in portuguese. :p
Márgara this is the meaning: yes, i'm a book.
Márgara MORRI!
Hesam por quê?
Márgara it's the best think in my hole life!
Hesam Sim. Eu sou um livro. :D
Márgara hahahahahaha are you a book, hesam???
Hesam :D. I don't know. I just wrote something in portuguese. :p
Márgara this is the meaning: yes, i'm a book.
Hesam :D e meu pai é uma biblioteca.
Márgara HUAHAUAHAUHAUAHAUHAUHAUH Márgara MORRI!
Hesam por quê?
Márgara it's the best think in my hole life!
Hesam :D dying or be a book?
Márgara be a book and have a father who is a library!
Márgara be a book and have a father who is a library!
Hesam hahahahahahahahaha.... now i am MORRI!
[ Post e comentários no Facebook ]
Hesam é meu colega iraniano do curso de inglês que toca flamenco numa guitarra espanhola e que não fala uma palavra em português.
Da série: cada segundo consegue ser melhor do que o anterior OU é nos pequenos e simples momentos que estão as melhores coisas da vida.
20111004
bobices [ 05 ]
Numa tarde fria e nublada de Glasgow..
~ vocês tem que conhecer um lugar muito bom para musica ao vivo chamado king tut's! Muitos artistas famosos comecaram lá
~ sim, o oasis foi descoberto nesse pub, né?
~ como tu sabe disso?
~ ué! Oasis é uma banda famosa..
~ mas tu mora no Brasil, tão longe!
~ eu moro no Brasil, não no meio da floresta junto com macacos!!
da série 'pequenos mundos paralelos'
~ vocês tem que conhecer um lugar muito bom para musica ao vivo chamado king tut's! Muitos artistas famosos comecaram lá
~ sim, o oasis foi descoberto nesse pub, né?
~ como tu sabe disso?
~ ué! Oasis é uma banda famosa..
~ mas tu mora no Brasil, tão longe!
~ eu moro no Brasil, não no meio da floresta junto com macacos!!
da série 'pequenos mundos paralelos'
20110925
Da primeira vez que passei mal..
Pois cansada da seqüência de experimentar tudo que é tipo de
novidade comestível, lá vou eu pro boteco com minha flatmate comer um saudável sandubas vegetariano, com o bife feito
de legumes amassados. Sim, nasci no Rio Grande do Sul mas prefiro por cebolas e
pimentões no espeto ao invés de picanha e vazio.
Moça, vou querer dois
burgers vegetarianos, uma coca e um energético, por favor.
[ pra contextualizar: aqui eles têm palavras além das
proparoxítonas. De trás pra frente, nós temos até a terceira sílaba tônica -
tipo meu nome, saca? Mas em inglês existe até quarta. Então, para falar vegetable
(pra quem não entendeu: a sílaba principal é VE), eu tenho que falar devagar
porque é difícil - pelo menos pra mim, pode rir, to NEI ai ]
Volto pra mesa contente com meu pedido, afinal hoje é uma
noite cheia de um sábado lindo pra balada e eu estou só me alimentando e
bebendo Monster (vamos combinar que se é pra beber refri, que seja um refri
punk, né?).
~ que cara é essa?
Veio toda se rindo até aqui..
~ estava pensando que
fazia muito tempo que não saia num sábado de noite só pra comer, sem pedir
cerveja, vinho ou qualquer coisa com álcool..
Conversa vai, email vem, eis que chega o garçom com nosso
pedido!
Eba, to morrendo de foooo.....me,
TCHÊ! MAAASSS QUE QUÉÉ ISSO???
A esperta e bem humorada da atendente do balcão (só pode ser
brasileira) me mandou um burguer normal, de bife de carne de boi!! Huuu
autêntico naco de cadáver 100% britânico ou o caralho a quatro da vaca da
vizinha escocesa. Desculpa o palavreado de baixo calão, mas existe uma
pequenina diferença entre BEEF e VEGETABLE
(lembra da sílaba tônica?) ou só eu que percebo isso?
Passado o primeiro espanto, penso: tá no inferno, flor, beija o capeta e pede um cigarrinho.
Vamos lá, não envergonha teu país carnívoro das
churrasqueadas dominicais!
E como boa gaúcha que sou, resolvi comer o bifão de carne legitimamente
escocesa moída, no formato de um alfajor gigante de três dedos de altura (bem
que podia ser um pedaço gigantesco de chocolate suíço, hein?).
Estou numa cidade diferente, num país diferente, num
continente diferente, com uma cultura completamente diferente, não posso me
permitir continuar sendo igual. A vida ganha mais vida quando tu se desprende
das velhas amarras e vive ela de forma diferente.
~ olha, vou eu te
contar que talvez faça uns dez anos que não como bife. Que estranho! Não é
ruim, mas não tem gosto de carne de verdade.
Comi pão, bife, cebola roxa, molho de tomate, alface,
mostarda, 3 saches de pimenta preta, batatinhas e uma lata de energético. Sim,
eu sei que o energético é de beber, não precisa comentar.
Enquanto tu ficas ai imaginando eu comendo um bife quase do
meu tamanho, vou dar uma pausa e já volto. Tá dando um clipe do Guns no Rock in
Rio de 1991 e PQP, galero! Como eu gosto dessa banda! Vê ai comigo!
Bem, depois de comer, beber e ver besteiras internéticas, resolvemos
voltar pra casa. Moro na vila e tem busão só até meia noite: ou vamos agora pro
fim da linha ou só amanhã de manhã. Já na primeira quadra, começo a repensar
minhas escolhas de vida. Na metade do caminho, me questiono porque ainda não planejei
a herança que deixarei. Na parada de ônibus, não consigo explicar em inglês pra
espanhola que mora comigo a dor que estou sentindo já que nem respirar nem
pensar estão mais na minha alçada de vida.
Eu já jantei massa à bolonhesa e sanduiche de presunto e
ovo.
Eu já almocei um prato típico escocês que é uma batata no
forno com haggis, aka, o bucho da ovelha moído e cozido.
Eu já comi bacon, feijão, ovo mexido, pão torrado e morcela
(morcilha para quem mora na cidade grande, black pudim pra quem é from UK) às
8h num café da manhã.
Por que um bifinho (se bem que prefiro Danoninho) me fez
isso, Déls?
Pois agora, 01:15 da madrugada, mais de duas horas depois de
comer metade de uma coxa de um maldito boi escocês genuíno, estou na cama, com
o estômago em pedra, lendo, escrevendo, ouvindo alguns momentos históricos de
shows do Roquenrio e revendo aquela história de vida nova e diferente.
Faço uma lista dos motivos que me fizeram não comer carne
mais. Mentalmente marco [OK] em todos e penso: se eu acordar amanhã, faço um testamento e vou maneirar nessa bobice de
ser diferente. Juro!
20110924
bobices [ 03 ]
~ mas o brasil é quente, né?
~ uma parte sim, mas o brasil é enorme, temos todos os tipos de clima
~ mesmo? como é na tua cidade?
~ olha, no meu estado temos 4 estações bem definidas mas um pouco mais quente que aqui. E no resto do brasil é mais quente. Tipo hoje, que é teu verão, é meu outono
~ sempre pensei que o brasil fosse quente sempre
[ faço um desenho tipo boneco de palitinho pra comparar o tamanho da escócia, do brasil e do RS ]
~ aqui é meu estado, aqui é quente e aqui..
~ tá brincando??? Sempre pensei que o brasil fosse um estado na espanha!!
da série: pequenas conversas climáticas
~ uma parte sim, mas o brasil é enorme, temos todos os tipos de clima
~ mesmo? como é na tua cidade?
~ olha, no meu estado temos 4 estações bem definidas mas um pouco mais quente que aqui. E no resto do brasil é mais quente. Tipo hoje, que é teu verão, é meu outono
~ sempre pensei que o brasil fosse quente sempre
[ faço um desenho tipo boneco de palitinho pra comparar o tamanho da escócia, do brasil e do RS ]
~ aqui é meu estado, aqui é quente e aqui..
~ tá brincando??? Sempre pensei que o brasil fosse um estado na espanha!!
da série: pequenas conversas climáticas
bobices [ 02 ]
~ e dai, é divertido ai em glasgow?
~ é a cidade que eu sempre esperei que porto alegre fosse
da série 'pequenas conversas de msn'
~ é a cidade que eu sempre esperei que porto alegre fosse
da série 'pequenas conversas de msn'
20110923
Da primeira vez que fui discriminada por ser brasileira
~ pois então, eu sou brasileira mas não moro perto da Amazônia nem do Pará nem do Acre, mesmo se ele existisse.
~ mas tua mãe nasceu na américa do sul não?
[ será que ela perdeu a aula de geografia? ]
~ sim, minha mãe nasceu na américa do sul, mas no rio grande do sul, longe desse Brasil ai com malária
~ mas tu pode carregar a doença de chacras
[ ~ moça, chacras são pontos energéticos iogues, tu quis dizer doença de chagas, né? ]
~ chagas?
~ isso, chagras..
~ bem, querida, chagas é uma doença que tem reações físicas, na pele, tu vê. Eu não posso ter isso. E eu sou doadora no Brasil, acho que eles teriam me avisado se eu tivesse.
~ mas tua mãe nasceu no Brasil, ela pode ter te passado e a doença está incubada em ti sem tu saber.
~ tu quer dizer que é tipo HIV?
~ sim, tu pode carregar ela e passar para nós.
~ amigue, tu tá querendo dizer que minha mãe que faz exame todo mês por qualquer besteira tem uma doença sanguínea não diagnosticada? E que além de ela ter uma doença transmissível, os médicos nunca disseram pra ela? E mais mais além que ela me passou isso e eu doo sangue há anos e já fiz algumas cirurgias e ninguém descobriu isso?
~ é uma doença comum no Brasil
[ respira fundo, flor, tu não vai conseguir explicar pra ela que doença de chagas foi descoberta no Brasil pelo Dr. Chagas e que ela não é comum nem no resto do Brasil muito menos no teu país. Tu não vai conseguir explicar todo o separativismo gaúcho, a não existência de alguns estados e que a Floresta Amazônica agora é patrimônio mundial. Esquece, pede um abraço e vai embora ]
~ é comum numa parte do Brasil, não onde minha mãe nasceu
~ é como CJD, que é muito comum pra nós
~ não sei o que é CJD mas tudo bem, tentei doar sangue aqui
~ creutzfeldt–Jakob disease*, é transmitido pela carne de vaca e nós comemos muita carne aqui. Talvez a gente não possa doar sangue no brasil também..
[ ok, ok, ok me tirem daqui por favor? ]
~ ahh tá, tentei fazer minha boa ação, mas tudo bem entendo que é difícil..
~ sim, tu é uma amor, mas infelizmente não posso. Se eu estiver cometendo algum equívoco, teu telefone está na ficha e o médico te liga, tudo bem?
~ tudo bem, eu entendo e se ele me ligar eu volto
~ só mais uma coisa: tu não respondeu essas questões: se tu já fez sexo com alguém que more em alguma região super afetada pelo HIV, tipo a África
~ enfermeira simpática, se tu acha que só por morar num estado politicamente pertencente ao Brasil e que só por causa disso que tenho Chagas, ou melhor, eu tenho Xacras, faço ioga e transmito doenças malígnas e secretas, é óbvio que tu acha que o Brasil é um país do lado de Angola, lá na África, né?
[ eu tentei, de verdade, doar sangue, mas fui discriminada por pertencer ao Brasil, pode pedir asilo político? ]
* Creutzfeldt–Jakob Disease, também conhecida no Brasil como a doença da vaca louca.
~ mas tua mãe nasceu na américa do sul não?
[ será que ela perdeu a aula de geografia? ]
~ sim, minha mãe nasceu na américa do sul, mas no rio grande do sul, longe desse Brasil ai com malária
~ mas tu pode carregar a doença de chacras
[ ~ moça, chacras são pontos energéticos iogues, tu quis dizer doença de chagas, né? ]
~ chagas?
~ isso, chagras..
~ bem, querida, chagas é uma doença que tem reações físicas, na pele, tu vê. Eu não posso ter isso. E eu sou doadora no Brasil, acho que eles teriam me avisado se eu tivesse.
~ mas tua mãe nasceu no Brasil, ela pode ter te passado e a doença está incubada em ti sem tu saber.
~ tu quer dizer que é tipo HIV?
~ sim, tu pode carregar ela e passar para nós.
~ amigue, tu tá querendo dizer que minha mãe que faz exame todo mês por qualquer besteira tem uma doença sanguínea não diagnosticada? E que além de ela ter uma doença transmissível, os médicos nunca disseram pra ela? E mais mais além que ela me passou isso e eu doo sangue há anos e já fiz algumas cirurgias e ninguém descobriu isso?
~ é uma doença comum no Brasil
[ respira fundo, flor, tu não vai conseguir explicar pra ela que doença de chagas foi descoberta no Brasil pelo Dr. Chagas e que ela não é comum nem no resto do Brasil muito menos no teu país. Tu não vai conseguir explicar todo o separativismo gaúcho, a não existência de alguns estados e que a Floresta Amazônica agora é patrimônio mundial. Esquece, pede um abraço e vai embora ]
~ é comum numa parte do Brasil, não onde minha mãe nasceu
~ é como CJD, que é muito comum pra nós
~ não sei o que é CJD mas tudo bem, tentei doar sangue aqui
~ creutzfeldt–Jakob disease*, é transmitido pela carne de vaca e nós comemos muita carne aqui. Talvez a gente não possa doar sangue no brasil também..
[ ok, ok, ok me tirem daqui por favor? ]
~ ahh tá, tentei fazer minha boa ação, mas tudo bem entendo que é difícil..
~ sim, tu é uma amor, mas infelizmente não posso. Se eu estiver cometendo algum equívoco, teu telefone está na ficha e o médico te liga, tudo bem?
~ tudo bem, eu entendo e se ele me ligar eu volto
~ só mais uma coisa: tu não respondeu essas questões: se tu já fez sexo com alguém que more em alguma região super afetada pelo HIV, tipo a África
~ enfermeira simpática, se tu acha que só por morar num estado politicamente pertencente ao Brasil e que só por causa disso que tenho Chagas, ou melhor, eu tenho Xacras, faço ioga e transmito doenças malígnas e secretas, é óbvio que tu acha que o Brasil é um país do lado de Angola, lá na África, né?
[ eu tentei, de verdade, doar sangue, mas fui discriminada por pertencer ao Brasil, pode pedir asilo político? ]
* Creutzfeldt–Jakob Disease, também conhecida no Brasil como a doença da vaca louca.
20110920
bobices [ 01 ]
trecho da conversa com John, meu novo tio:
~ tu gosta de sinuca?
~ sim, mas não sei jogar e não achei sinuca nenhuma por aqui, só longe!
~ haha tem uma sinuca na outra esquina, depois da garagem!
~ mentira! tem nada!
~ tem sim, conhece o XXX XXX (um nome qualquer, mas é tipo o Rui Chapé deles)?
~ oh claro!
~ pois ele treina ali! E tu pode tomar uma cerveja e voltar pra casa!
~ hahahaha john, até parece que é meu tio, hein?!?!
~ tu gosta de sinuca?
~ sim, mas não sei jogar e não achei sinuca nenhuma por aqui, só longe!
~ haha tem uma sinuca na outra esquina, depois da garagem!
~ mentira! tem nada!
~ tem sim, conhece o XXX XXX (um nome qualquer, mas é tipo o Rui Chapé deles)?
~ oh claro!
~ pois ele treina ali! E tu pode tomar uma cerveja e voltar pra casa!
~ hahahaha john, até parece que é meu tio, hein?!?!
20110915
E no meio de tanta gente eu encontrei você..
Uma das perguntas que os glaswegians (repete ai: glaswegians) mais me fazem por aqui (depois de fazer algum comentário clichê sobre samba ou carnaval ou Pelé ou Ronaldo) é: mas por que Glasgow? E como boa trovadora, no início sempre tentava embelezar a minha escolha (e valorizar a cidade): porque gosto da cultura escocesa, gosto do Reino Unido, porque Glasgow é linda mas não é turística como Edingurgo*, porque a história de vocês é muito parecida com a do meu país**, adoro esse sotaque carregado e preciso aprender inglês***.
Quando percebi que eu ouviria essa pergunta para todo o sempre até que a morte me separe daqui, resolvi brincar com as respostas:
~ Queria ser vizinha do William Wallace.
~ Girei o globo e meu dedo parou aqui.
~ Vim aqui só pra provar quem é Highlander mesmo.
~ Eu gosto de Guinness e a água daqui é melhor que na Irlanda.
~ Adoro bacon no café da manhã.
~ Onde mais eu te encontraria?
Mentira, essa última nunca usei mas juro que ela tá guardadinha na manga com meu às de espadas e meu grito de truco.
Mas afinal de contas, por que fucking motivo tu escolheu Glasgow, flor colorada dos cabelos negros?
Agora, pouco tempo depois da minha chegada, já nem me lembro mais o real motivo que me trouxe até aqui. Talvez, apenas existam pequeninas razões que me convencem todos os dias de que fiz a escolha certa.
Talvez sejam essa mistura de flores e concreto.
Talvez seja só o concreto.
Talvez sejam as ruas tranquilas.
Ou talvez não seja nada disso.
E talvez seja muito mais que tudo isso.
E então, acrescento mais uma frase de caminhão da estrada da minha vida:
Quando tu faz a escolha errada, tu procura justificar tua decisão.
Mas tu não precisa explicar quando tu acerta.
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Quando percebi que eu ouviria essa pergunta para todo o sempre até que a morte me separe daqui, resolvi brincar com as respostas:
~ Queria ser vizinha do William Wallace.
~ Girei o globo e meu dedo parou aqui.
~ Vim aqui só pra provar quem é Highlander mesmo.
~ Eu gosto de Guinness e a água daqui é melhor que na Irlanda.
~ Adoro bacon no café da manhã.
~ Onde mais eu te encontraria?
Mentira, essa última nunca usei mas juro que ela tá guardadinha na manga com meu às de espadas e meu grito de truco.
Mas afinal de contas, por que fucking motivo tu escolheu Glasgow, flor colorada dos cabelos negros?
Agora, pouco tempo depois da minha chegada, já nem me lembro mais o real motivo que me trouxe até aqui. Talvez, apenas existam pequeninas razões que me convencem todos os dias de que fiz a escolha certa.
Talvez sejam essa mistura de flores e concreto.
Talvez seja só o concreto.
E talvez seja muito mais que tudo isso.
E então, acrescento mais uma frase de caminhão da estrada da minha vida:
Quando tu faz a escolha errada, tu procura justificar tua decisão.
Mas tu não precisa explicar quando tu acerta.
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* roubei tantos sorrisos por causa disso que vocês não tem noção!
** Rio Grande do Sul, só para deixar claro.
*** de novo, eu roubo sorrisos aqui porque vir para a cidade aprender onde é falado o inglês mais difícil é piada, né?
20110913
Quem for do batuque, que batuque.
E quem for das rezas, que reze.
E quem for das oferendas, que se ofereça.
E quem for das energias, que se concentre.
E quem for da dança, que dance.
E quem for dos espíritos, que acenda a espiritadeira.
Seja qual for tua opção de vida, viva.
Mas dentro dela, se houver bons pensamentos, pense também em mim.
Estou realmente precisando de umas energias positivas por aqui!
Energias do tipo URGENTES!
E quem for das oferendas, que se ofereça.
E quem for das energias, que se concentre.
E quem for da dança, que dance.
E quem for dos espíritos, que acenda a espiritadeira.
Seja qual for tua opção de vida, viva.
Mas dentro dela, se houver bons pensamentos, pense também em mim.
Estou realmente precisando de umas energias positivas por aqui!
Energias do tipo URGENTES!
20110911
Eu faço rancho na cozinha alheia.
É, eu sei. Pode falar o que quiser e eu admito: tô brincando de ser jovem.
E daí? Tu brinca de ser adulto. Cada um faz o que quer com sua velhice.
Pois lá vou eu pra cozinha compartilhada com mais 10 apartamentos (meu hostel tem 8 andares, uns 40 quartos por andar e a cada 10, 1 cozinha. Imaginou? Poisentão...) fazer um sanduiche. Desde quando eu cheguei, o lixo não tinha sido tirado. Entende 2 semanas com lixo orgânico e seco na lixeira? É, amigo da rede globo, dei azar. Peguei a cozinha mais podre com os companheiros de cozinha mais porcos.
Tá, sábado, sem planos muito concretos, baixou a Maria e resolvi fazer aquela faxina: recolhi os sacos de lixo, catei umas coisas mofadas em cima da mesa e das pias e lá fui eu levar uns peixes podres e umas latas vazias no subsolo (sem hífen fica como mesmo?). No caminho, tem uma porta que dá pra lavanderia que tem um sofá que tinha dois edredons do lado de uns travesseiros e duas sacolas de cabide. Pensei: ninguém ia deixar essas coisas ai pra pegar depois né? Lá vai eu, a menina flor necessitada de cabides, falar com o tio guardinha da recepção:
~ Óh, tá lá, posso pegar?
~ Pode sim. Deve ser das tailandesas que foram embora ontem. Sabe aquelas caixas ali? São pra transportadora levar pra Tailândia amanhã.
(Sério, tio, que as tailandêsas moram na Tailândia?)
~ E o senhor se importa de abrir a outra cozinha do meu andar? Eu vi um bilhete em cima da mesa que tinha coisas que as pessoas podiam pegar.
~ Claro, vamos lá!
(Sim, sou cara dura mesmo. Quanto mais eu economizar, mais eu viajo ou bebo Guinness)
(Sim, sempre faço amizade com porteiros, lixeiros e coveiros e afins)
Aquela era a cozinha das tailandêsas (benditas sejam vós entre as mulheres brasileiras neste hostel) e elas deixaram muitas coisas ali: sopinhas tailandêsas, temperos tailandêses, produtos de limpeza, sacos de congelar/ armazenar alimentos e um monte de outras bobices assim. Tudo fechado, sem uso, como se eu fosse num super comprar.
Ok! Feliz da vida, cheia de produtos de limpeza pro meu novo endereço, volto pra cozinha fazer meu sandubas.
Deixa eu explicar uma coisa: eu já tinha comprado um lance de limpar banheiro e dois pares de cabide mas eu moro num quarto! Um quarto com 1/3 do tamanho do meu quarto. Com um banheiro do tamanho do teu bidê! E uso uma cozinha compartilhada! Então, eu nem podia comprar essas coisas porque não tenho onde colocar mais nada por aqui!
Mas enfim, vamos voltar ao mais importante?
Voltei pra fazer meu sandubas de pão integral, queijo e cogumelos (porra, preciso fazer mais uma observação, desculpaí: aqui os cogumelos são mega baratos e eu tenho amado isso por que sou mega apaixonada por esses chapéuzinhos de cobra. Posso comer todo dia, toda hora, todo momento. E melhor, tem umas várias variedades variáveis deles. Tô feliz e bem alimentada, viu, pai? Viu, mãe?).
Enquanto cozinhava os cogus (alucinógenos, só pode) arrumei mais coisas na cozinha. Depois comi e fui lavar a minha louça. Eis que o tio guardinha simpático com um sotaque absurdamente difícil chega pra mim e diz: Olha.. na cozinha do andar de cima também tem coisas pra pegar, tu quer ver? Olha.. olha pra minha cara, tio: é lógico que eu quero!!
E lá vamos nós pra outra cozinha. Véi... na boa! Comecei a adorar essa galera que vai embora toda semana!
Por causa da minha maluca e rara alergia (e porque sou nojentinha mesmo), não pego nada aberto, então só pude pegar: produtos de limpeza, um jogo de talheres floridos fechados na caixa, biscoitos de chocolate suiço, geléia londrina, lata de pêssego em calda, azeite de oliva, aceto balsâmico, caixa de capuccinos, um ferro de passar roupa e uma balança de chão.
E quer saber? Pode rir, eu deixo. Porém, eu sou menina, não esqueça disso! E uma balança é importante numa cidade onde o café da manhã tem bacon, salsicha frita e ovos.
Peguei uma lata de tomates sem pele duma caixinha de quatro: É bom pra fazer pasta, tio. Coloquei tudo numa sacola e ele pôs mais uma lata: Vai que tu faça bastante macarrone, hein?
Ahhh tio, assim tu ganha até um sorrisão!
E lá fui eu pro meu cantinho, tentar arrumar meu rancho das cozinhas alheias.
Estou apertada muito mais do que antes.
Tenho, no meio do meu quarto, uma sacola enorme de coisas que só vou usar quando sair do hostel.
A estante que era pra ter livros está cheia de coisas pra comer que talvez eu nunca compraria.
Posso congelar toda a comida do hostel e limpar todas as cozinhas.
Estou cansada.
Mas minhas roupas estão desamassadas, eu tenho um sorriso bobo adolescente no rosto e uma lua cheia lá fora.
Maybe today was a lucky day.
E daí? Tu brinca de ser adulto. Cada um faz o que quer com sua velhice.
Pois lá vou eu pra cozinha compartilhada com mais 10 apartamentos (meu hostel tem 8 andares, uns 40 quartos por andar e a cada 10, 1 cozinha. Imaginou? Poisentão...) fazer um sanduiche. Desde quando eu cheguei, o lixo não tinha sido tirado. Entende 2 semanas com lixo orgânico e seco na lixeira? É, amigo da rede globo, dei azar. Peguei a cozinha mais podre com os companheiros de cozinha mais porcos.
Tá, sábado, sem planos muito concretos, baixou a Maria e resolvi fazer aquela faxina: recolhi os sacos de lixo, catei umas coisas mofadas em cima da mesa e das pias e lá fui eu levar uns peixes podres e umas latas vazias no subsolo (sem hífen fica como mesmo?). No caminho, tem uma porta que dá pra lavanderia que tem um sofá que tinha dois edredons do lado de uns travesseiros e duas sacolas de cabide. Pensei: ninguém ia deixar essas coisas ai pra pegar depois né? Lá vai eu, a menina flor necessitada de cabides, falar com o tio guardinha da recepção:
~ Óh, tá lá, posso pegar?
~ Pode sim. Deve ser das tailandesas que foram embora ontem. Sabe aquelas caixas ali? São pra transportadora levar pra Tailândia amanhã.
(Sério, tio, que as tailandêsas moram na Tailândia?)
~ E o senhor se importa de abrir a outra cozinha do meu andar? Eu vi um bilhete em cima da mesa que tinha coisas que as pessoas podiam pegar.
~ Claro, vamos lá!
(Sim, sou cara dura mesmo. Quanto mais eu economizar, mais eu viajo ou bebo Guinness)
(Sim, sempre faço amizade com porteiros, lixeiros e coveiros e afins)
Aquela era a cozinha das tailandêsas (benditas sejam vós entre as mulheres brasileiras neste hostel) e elas deixaram muitas coisas ali: sopinhas tailandêsas, temperos tailandêses, produtos de limpeza, sacos de congelar/ armazenar alimentos e um monte de outras bobices assim. Tudo fechado, sem uso, como se eu fosse num super comprar.
Ok! Feliz da vida, cheia de produtos de limpeza pro meu novo endereço, volto pra cozinha fazer meu sandubas.
Deixa eu explicar uma coisa: eu já tinha comprado um lance de limpar banheiro e dois pares de cabide mas eu moro num quarto! Um quarto com 1/3 do tamanho do meu quarto. Com um banheiro do tamanho do teu bidê! E uso uma cozinha compartilhada! Então, eu nem podia comprar essas coisas porque não tenho onde colocar mais nada por aqui!
Mas enfim, vamos voltar ao mais importante?
Voltei pra fazer meu sandubas de pão integral, queijo e cogumelos (porra, preciso fazer mais uma observação, desculpaí: aqui os cogumelos são mega baratos e eu tenho amado isso por que sou mega apaixonada por esses chapéuzinhos de cobra. Posso comer todo dia, toda hora, todo momento. E melhor, tem umas várias variedades variáveis deles. Tô feliz e bem alimentada, viu, pai? Viu, mãe?).
Enquanto cozinhava os cogus (alucinógenos, só pode) arrumei mais coisas na cozinha. Depois comi e fui lavar a minha louça. Eis que o tio guardinha simpático com um sotaque absurdamente difícil chega pra mim e diz: Olha.. na cozinha do andar de cima também tem coisas pra pegar, tu quer ver? Olha.. olha pra minha cara, tio: é lógico que eu quero!!
E lá vamos nós pra outra cozinha. Véi... na boa! Comecei a adorar essa galera que vai embora toda semana!
Por causa da minha maluca e rara alergia (e porque sou nojentinha mesmo), não pego nada aberto, então só pude pegar: produtos de limpeza, um jogo de talheres floridos fechados na caixa, biscoitos de chocolate suiço, geléia londrina, lata de pêssego em calda, azeite de oliva, aceto balsâmico, caixa de capuccinos, um ferro de passar roupa e uma balança de chão.
E quer saber? Pode rir, eu deixo. Porém, eu sou menina, não esqueça disso! E uma balança é importante numa cidade onde o café da manhã tem bacon, salsicha frita e ovos.
Peguei uma lata de tomates sem pele duma caixinha de quatro: É bom pra fazer pasta, tio. Coloquei tudo numa sacola e ele pôs mais uma lata: Vai que tu faça bastante macarrone, hein?
Ahhh tio, assim tu ganha até um sorrisão!
E lá fui eu pro meu cantinho, tentar arrumar meu rancho das cozinhas alheias.
Estou apertada muito mais do que antes.
Tenho, no meio do meu quarto, uma sacola enorme de coisas que só vou usar quando sair do hostel.
A estante que era pra ter livros está cheia de coisas pra comer que talvez eu nunca compraria.
Posso congelar toda a comida do hostel e limpar todas as cozinhas.
Estou cansada.
Mas minhas roupas estão desamassadas, eu tenho um sorriso bobo adolescente no rosto e uma lua cheia lá fora.
Maybe today was a lucky day.
20110902
E quando tudo dá errado?
As coisas comigo nunca foram normais. Lineares, saca?
Nunca. E nunca deram certo por muito tempo.
Quando começa passar muitos dias com tudo dando certo, fico apreensiva, com medo. É, de verdade.
Eu sinto que quando as coisas começam a fluir demais, é por que virá uma tempestade tão grande, uma merda tão absurda que nem chego a me espantar quando a correnteza inverte.
Pois na minha vinda pra Glasgow não poderia ser diferente. Claro que não. Porque seria, né?
O que antes era minha rota inicial:
Vôo 18h47 para o Rio de janeiro, espera no aeroporto. Vôo pra Londres às 0h45 com chegada prevista para às 16h05 local (12h05 no Brasil). Mais uma esperinha e partir pra Glasgow às 17h15 pra chegar às 19h. Três vôos, escalas suficientes para evitar atrasos e correrias desnecessárias, hein? Eu planejo muito bem as coisas.
Virou minha rota final:
Chego no aeroporto Internacional (?) Salgado Filho às 16h40 pra fazer o checkIn e a tia da TAM diz que meu vôo tá atrasado e pra eu não perder a conexão pra Londres, me antecipará: meu vôo sai às 17h40. Beleza, tia, estamos aqui pra voar! Faço uma horinha na loja da Vivo (desculpa a obviedade, mas tomara que morra) e lá vou eu pra sala de embarque com os olhinhos mareados e a garganta tão trancada que não saia nem um PORRA NEI, imagina um eu te amo.
O painelzinho dizia que meu vôo estava na última chamada. Corri como pude (desde quando alguém de salto, uma mochila, uma bolsa abarrotada de coisas e uma festa de borboletas no estômago consegue correr?) até um menino bem simpático que fechava uma portinhola que parecia que ia pro meu avião. Moça, seu vôo era às 17h04, são 17h32. Mas moço! A tia que disse que era 17h40, não sou louca. Com uma cara de quem não leva minha afirmação muito a sério, o menino super simpático liga pro piloto e pede pra abrir a porta rapidinho e desliga. Olha pro avião e nós dois (com olhos de saudade) damos um adeus mental e voltamos ao mundo real. Ele super gentil arruma outra conexão pra eu não perder o bendito vôo pra Londres: o jeito mais rápido de tu chegar até o Rio é ir pra Curitiba, de Curitiba vai pra Guarulhos - São Paulo e depois pro Rio. Tu chega meia hora antes de sair pra Londres, dá perfeitamente.
Querido, eu sei que Guarulhos fica em São Paulo, só não sei como tu acha que essa É A MANEIRA MAIS RÁPIDA E FÁCIL DE CHEGAR NO RIO, MALUCO!
Sim, não sei e nem quis muita conversa. Deixa eu ir embora daqui antes que ele me mande descer em Floripa também!
Lá vai eu, de salto, mochila com notebook e algumas mudas de roupa caso houvesse necessidade de banho no caminho, bolsa com livros, necessaires (duas, não me julgue), coisa pra fazer as unhas, guia da Escócia, material de estudo de inglês - afinal eu ia passar pelo menos 5h de espera em aeroportos mais o caminho todo até Londres, eu tinha que ter coisas pra fazer, né?
Chego em CWB (pense comigo o porquê CuRiTiBa ser CWB..), não há wi-fi free em nenhum lugar do aeroporto
~moça, há rede wireless por aqui?
~hmmm não sei o que é isso
~wi-fi, internet, sinal de internet, sem fio..
~ahhh só ali
Vou até ali e percebo que é um stand fixo de uma operadora de telefonia que tinha tomadas para carregar aparelhos eletroeletrônicos. Ok, descobri que Curitiba foi fundada por catarinas portugueses e por isso é CWB, W de WOOWWW COMO SE ABREVIAM AS COISAS!??
Lá vamos nós pro avião, rumo à terra do lado da terra da garoa (a terra da garoa é São Paulo capital né?). Ok, de CWB até CGR foi tranquilo e até o Rio também. Nada demais. Ufa! As coisas estão começando a se ajeitar, hein, flor? Sim! Todos comemora \o/
Lá vamos nós na Infraero pedir a senha pra usar QUINZE minutos de internet (de verdade) na Sala de embarque. Pega a senha, vai no banheiro, lava o rosto, passa pela migra (migra? que migra?) e vai pra sala. Uma, duas, três, seis, quinze, dezessete tentativas e a senha não entra. Sem internet? O que eu faço? Vai pro avião, imbecil já tão chamando!
Lá vou eu, na última fileira da última separação da última classe do avião, lááá láááá beeeem lááá sentar no corredor. Obrigada, moça, pela água e pela balinha, muito gentil. Um casal argentino chega falando e sentam separados. Sou querida né? Usteds gustarian de sentarse juntos? Ela fala com ele rapidão alguma coisa que não entendo e agradece si si. Me mudo de lugar e ouço eles conversarem alguma besteira em italiano. ITALIANO, SURDA! Por isso os dois me olharam com uma cara de HEIN quando fui simpática.
Ok, poe os fones de ouvido e vai ouvir alguma coisa até o avião ir embora. E não te esquece de duas coisas, minina: sempre lê as instruções mesmo que te digam como se faz ou que horário é & sempre pergunte se a pessoa fala espanhol/inglês/português num vôo internacional.
Lá vou eu ver Thor na televisãozinha do avião. Sim, tu imaginou o que? Que eu ia estudar inglês, fazer as unhas ou planejar roteiros turísticos? Crack não, né?
Acorda, dorme, acorda, vê filme, faz xixi, pede café, dorme, vê filme, escova dentes, que horas são? 9h no Brasil. Essa gente não vai abrir a porra das janelas não, bando de vagal! Ok, café da manhã, lê um pouco, planeja o que vai dizer na migra, mais filme! Chegamos! Lá vamos nós pro aeroporto Internacional (agora sim Internacional, brow) de Londres. Da porta do avião até a primeira parada na UK Border Agency contei 6 banheiros, intercalados por aproximadamente 500m de corredor cada um. Não sei ao certo, mas acho que perdi as contas na metade. Chega feliz na migra, vai pra fila menor (como é bom ir pra Escócia, velho! Ninguém quer vir pra cá!), pega todos os papeis previamente separados e coloca uma cara feliz (sem sorriso, conforme orientações do casal irlandoitaliano) nesse rosto. Fácil, né? Não. Nada é fácil por aqui. Já disse isso antes?
Depois de um questionário enorme, a tia da migra me dá um papelzinho escrito que reteve meus documentos e diz que quer bater um papo comigo ainda. Lá vou eu pro banco. Passa um monte de gente, ela me chama. Respondo tudo direitinho (claro que começo a errar os tempos verbais violentamente), ela me manda sentar de novo. Passa um monte de gente, ela me chama e tem uma intérprete do lado (opa! Uma castelhana! Tamo em casa!) e me faz repetir exatamente tudo de novo. But.. why did you choose Ireland? Sorry, I'm going to Scotland, Glasgow, remember? Sorriso amarelo e um pedido de desculpa, mas me manda sentar e vai pruma salinha preciso falar com minha chefe. Nessa hora, já tô pensando em suicídio, ou em ir pra Palestina. Lá eles não vão se importar com meu sobrenome, com o quanto tenho de dinheiro nem se eu vou me prostituir. Lá vem as duas de novo, refazem todas as perguntas, mas dessa vez a tia loira anota tudo num papel. Voltam pra sala. Volto pro banco. Volto a pensar em me mudar pro México e passar a nado pros EUA. Volto a pensar que não sei Geografia e que se vai a nado pro ZEUA é de Cuba. Revejo mentalmente o mapa mundi. Sei onde estou mas não sei o meu caminho. Depois de muito tempo, descobri um relógio em uma parede distante. Como um Nutri, passo batom e vejo as horas: parabéns, migra, tu acabou de me fazer perder o vôo.
Ok, passa menina, tu vai ver que o nível de vida aqui é bem diferente. Talvez na Escócia seja outra coisa à Londres, mas é diferente do que tu tá acostumada também.
Tia lôra, brigada pelo conselho, vou economizar, não te preocupa comigo e lá vou eu atrás da British Air pra pedir que troquem minha passagem. Terminal 1 e 2, desce. Terminal 3, 4 e 5, reto. Desço, lógico. Não, flor, não é no caminho que tu acha que é. Nunca. Será que não aprende? Não, sou teimosa, me deixa. Peço ajuda no guichê da TAM que me manda pro guichê do lado que tem uma mulher que me olha com um sorrisinho de hiii tá fudida e um homem com cara de irmão do Ildo (quem entendeu, me add). Explica, explica, explica até que o cara vê meu vôo, me informa que eu perdi (sério???) e escreve num papel o que que devo fazer, telefone e assina. Saio correndo (correndo naquelas né?) e ele grita: If you need, call me. If you don't need, call me too. Ou foi isso que eu entendi. Sorrio simpática e vou embora. Juro que tentei dizer que ligaria quando aprendesse a falar inglês, mas não vou mentir em terras estrangeiras. A minha cia fica no terminal 5, tem que pegar um ônibus que leva aproximadamente 10 minutos sem trânsito (WHATA FUCK?). Lembra daquele aeroporto Internacional Salgado Filho? Ele inteirinho é um dos cinco terminais de UM DOS aeroportos de Londres. Imaginou a Copa do Mundo agora? Nem eu.
Dor nas costas e no braço que carrega a bolsa que carrega o mundo não me incomoda mais. Passei um país inteiro, passei um oceâno, passei da migra, passei por todo o aeroporto londrino, não vai ser um pesinho que vai me atrapalhar! Bora!
Então, acho a BA, sorrio o máximo possível, peço outro vôo, explico que me perdi nessa porra de aeroporto dos infernos e que quero ir pra minha casa! Sim, pega essa passagem, passa naquele portão e anda rápido que teu vôo sai em 50min. Não discuto, né? Estou num aeroporto de 350 mil metros quadrados. Lá vou eu no portãozin.. CARALHO! OUTRA MIGRA?? NÃÃOOO!! Explicar que acabei de passar por UK Border Agency e que só quero ir pra Glasgow me pareceu mais fácil agora (ou talvez as olheiras, a cara de cachorro pidão e a corcunda até a cintura tenham ajudado).
Dormi esperando a decolagem e fui acordada por um um homem com cerca de quarenta anos meio grisalho que seria bem charmoso se eu descobrisse se ele olhava pra mim ou pro china do meu lado. Mas sabe, até isso me divertiu. Isso e os barulhos que o avião fazia. Tô na janelinha, azar. Olha esse por do sol, guria! Quase tão bonito que o do gasômetro! Claro, aparecem nuvens, nuvens e deu, nublou tudo. Tá, tô nem ai. Pela teoria de que alguma coisa tem que acontecer de errado, prefiro nuvens do que queda livre.
E então, de repente, vem uma luz laranja violenta logo que ultrapassamos as nuvens e começamos a voar por cima delas. Tchê! Estiquei minhas perninhas e pensei: Obrigada pela recepção, Glasgow. Este é o ponto final mais ducaralho que tu podia colocar depois de toda essa maluquice até aqui.
Feliz, contente e sorridente, saio dando tchau, obrigada, bye, gracias pra todos os aerofuncionários da British Air. Vou até a salinha das malas, louca pra pegar minhas coisas e ir pro hostel tomar um banho.
Ahhhh tu pensou que eu tinha termidado né? Quer levantar? Tomar água? Porquê? Por que minhas malas sumiram! Sinto muito, ladie, uma das malas está chegando e a outra não está no avião. Nem no próximo. Nem aqui. Nem no sistema. É, também acho que se perdeu. Diz o tiozinho do Perdidos&Perdidas. Posso esperar a que está vindo? Não, não vale a pena.
Ok, Glasgow, lembra do agradecimento, ponto final, lindo, por do sol, te amarei pra sempre? ESQUECE!
Pego um táxi (que parece um microônibus de tão grande) e o tio tenta falar comigo. Respondo sim pruma pergunta que deveria ter pelo menos uma frase. Estou cansada, perdida, chata, sem bagagem, triste. Não sei falar inglês, não sei falar português, não sei falar! Sou muda! Ele começa a contar da gravação de um filme, por isso pegará outro caminho, blábláblá angelina blábláblá horror blábláblá WHATA? ANGELINA, TIO? Sim, ela tá gravando o filme, bem pertinho de onde tu vai.
[insira aqui umas novecentas e trinta e sete expressões de felicidade]
Não, não vi La Jolie de perto, ela não está hospedada no meu hostel nem deu uma piscadela pra mim. Passamos na esquina onde, atrás de uma multimultidão, ela estava. E só. O motivo da felicidade? Eu respiro o mesmo ar que ela agora! Ela está na minha cidade! Tá ligado? Depois disso, os vôos perdidos, as milhares de conexões, as gafes, a perda de TODA minha bagagem, fez sentido.
As coisas só podem dar certas, depois de darem muito errado.
Chego no Hostel e não tem ninguém na recepção. Lógico que não tenho o telefone do hostel, né? Preciso de internet pra procurar nos meus emails. Peço ajuda até chegar num pub tipicamente britânico. A burger and a pint, £6. Que barato! Quero isso, moça! Sinto muito, a cozinha fechou. Posso só beber uma Guinness então? Sure!
Internet, mesa, banquinho almofadado, um pint de Guinness, Pub, gente bonita, sotaque apaixonante? Déls, tu existe!
Liga pro hostel, pede pra abrir a porta, chega no quarto, banho. Opa! Tu não tem mala! Azar, tenho uma toalhinha de rosto na bolsa que carrega o mundo e roupa extra na mochila. O que estava dando errado mesmo? Ah sim, MÃE! COMO TU ME COLOCA COMO SENDO ROUPA EXTRA 4 MEIA-CALÇAS, UM LENÇO, UMA SAIA VELHA E A BLUSA QUE EU USEI NA ÚLTIMA NOITE DA MINHA KERB DE DESPEDIDA???
Mas como dizem os mais velhos: o que é um peido..
Banho tomado, coloco quase a mesma roupa que estava e vou caminhar pra comer. Lembra do salto? Sim, ele ainda estava ali embaixo. O tiozinho da portaria se compadeceu de mim e arrumou um edredon (até tuas malas chegarem ou tu comprar outro) que eram de uns chineses ou alguma coisa assim. Vai caminhar, guria, que não aguento mais ler!
Lá vou eu, caminhando, caminhando, dando voltas pelas quadras próximas, achando vários lugares pra comer, pensando em ir no próximo, no próximo, no.. até sentir que uma das bolhas do meu pé estourou e que a esquina de casa era ali. Quer saber? Vou pegar um sanduba e ir comer na cama, como se não houvesse amanhã. Tô cansada, dolorida, triste, pobre, sem roupas, sem chinelo, sem HD externo, sem esmaltes ou perfume, sem máquina fotográfica, sem casaco, sem botas, sem pimentas ou manjericona, sem pulseiras ou brincos, sem blusa, blusão ou blusinha, sem meia, sem tênis, sem bolsinha de passear, sem camisetas do Inter, sem shorts ou saia, sem.. sem.. nada.
Hi, Petre. Hello, dear. Come on, I have something for you. Eu tava tão abatida que ele pode ter dito que queria me matar e vender meus órgãos pra Romênia que eu teria sorrido de qualquer maneira. Ele abre a portinhola escrito Staff Only e.. lá estavam elas! Minhas malinhas! Minhas pesadas e tão saudosas malas! Minha vida!
Então, lá vou eu pro quarto, com minha vida de volta, com lençóis cheirosos de casa, um sorriso cansado e uma felicidade boba de quem tem um mundo inteiro pra percorrer.
Apago a luz, me estico na cama e me pergunto: E quando tudo dá errado, babe?
É por que logo tudo vai dar certo.
20110831
Márgara like Margareth? Yes, but without eth: Márgara.
Sim, é tudo novo.
Sim, é tudo estranho e divertido.
Cada minutinho que passa (e eles custam a passar), gosto mais desse sotaque, dessa gente que não me entende, dessas construções medievais, vitorianas e ao mesmo tempo modernas e cheia de vida.
Estou fascinada por este amor deles pela história, pela honra e pelas lutas que deram (ou não) certo.
Adoro essa cerveja a granel, essa comida gordurosa, este transito ao contrário. Óbvio que pareço uma criança atravessando a rua, sem saber de onde os carros vêm, para onde eles vão. E o que isso importa? Sou criança em tantos momentos mesmo!
E então, cá estou eu em um balcãozinho no canto de um pub The TolBooth Bar) que existe desde 1906, cuja dona é filha da filha do filho do dono (ou alguma raiz direta parecida com essa), feito todo em madeira de mogno marrom escuro. Quando eu digo todo, é todo mesmo: bancos, banquetas, mesas, mesinhas, parede, portas, separador de mesas, balcão, paredes, prateleiras e adornos detalhados e entalhados. Ah as prateleiras! Cheias de garrafas de destilados naquelas coisinhas que as mantém de cabeça pra baixo pra servir doses sem desperdício nenhum. Os destilados são além de uísques, há também vodka, conhaque e uísque nacional.
Estou aqui, tentando ler o jornal, tomando uma Tennent’s Special pale ale, que me parece uma boa pedida, pois ainda são 19h30 e está claro lá fora. John McIntyre, o cantor preferido daqui do pub, começa a cantar, tocando guitarra e acompanhado de um teclado eletrônico. SIM! Bateria eletrônica TUM DUM TSSS existe aqui também. A diferença é que o cara toca roquenrol clássico, pop e hip hop, há velhos com cabeças brancas desdentados pelo balcão principal e meninas de mini saia rebolando até a metade do caminho do chão. Creio que iriam até o chão se soubessem ou se o horário permitisse.
Um dos tios (com todos os dentes, viu?) veio falar comigo e perguntar se eu estava escrevendo uma novela, um poema ou uma carta de amor (obrigada, eu entendi o contexto inteirinho da frase). Contei que não era daqui e, depois de trocarmos umas frases, ele me beijou 3 vezes alegando nunca ter beijado uma mulher brasileira. Porra, Michel! Arruma outra desculpa!
Minha avó acabou de entrar no pub. Ela é exatamente igualzinha à minha mãe mas mais velha, com mais cabelos brancos e mais magra (incrivelmente mais tudo isso!). A diferença entre elas é que minha avó acabou de pedir uma cerveja, foi até o John pedir uma música e usa uns tênis Nike daora!
Michel está dançando com a menina mais bonita do bar, a que veio com a de mini saia bege (BEGE?!? Nem em calcinha se usa isso, querida! Imagina na saia! Sorte tua que tens pernocas bonitas) e que destoam - juntas - do restante da galera. A menina que dança com o Michel é realmente linda, usa um saião vermelho e uma regata azul. Sempre haverá um GRENAL* onde quer que eu esteja!
VÓ, SAI DA PISTA! Deixa o Michel beber sua cerveja!
Isso tudo parece uma grande festa de família, mas não é. É só um pub irlandês em plena Escócia!
E vou dizer, depois de ter visto um grupo de górdénhas ensaiando streetdance ao som de Rihana remix dentro de uma igreja sem bancos nem padres e que tinha um pub no subsolo, eu não duvido de mais nada nessa cidade.
Ok, ok, ok e ok de novo. Minha avó acabou de tirar a menina do saião vermelho pra dançar e está rebolando até o chão**. Melhor ir pra casa. Estou há menos de 48h aqui. Preciso deixar essa cara de surpresa pra outros momentos também.
Acabei de tomar uma decisão muito séria: vou parar de comer pra viver em lugares como este. Não é possível ter uma menina que poderia passar por puta em POA com um tio engravatado de cabelo branco e brinco de ouro com um cara mais bebum que toda minha família com um casal que parece ter saído da calçada da fama com um tio que poderia estar ali na João Telles guardando carro com um chapista da Lancheria com minha vó com.. com.. com.. comigo!
Hotel Califórnia, não, John. Lembro minha infância e penso que estou em casa.
Jaque veio falar comigo. Sim, eu sou uma estranha no ninho deles. É um bar de gente que vai todo dia no mesmo bar. É um bar que todos se conhecem, sabem o que os outros fazem e são amigos, parentes ou os dois ao mesmo tempo.
É por isso que minha vó conhece a guria da saia vermelha que conhece o Michel que conhece a de mini saia que conhece o sobrinho da Jaque que conhece o tio bebum que fala russo que conhece o gerente que conhece todo mundo que conhece minha vó*** que não me conhece.
Jo ( lê-se Djo, não posso esquecer), o gerente da casa, veio falar comigo, se apresentar, ver se estava tudo bem e se eu não preferia trocar de cerveja. Dát õn és bétar e me deu uma pilsen. Sim, mesmo sendo pilsen, era muito melhor, obrigada, Jo.
Thanks, J&J, for every second that I had fun.
Eu sou a menina solitária estranha e desconhecida que usa polainas e all star no canto do balcão do canto que não conhece ninguém.
Eu sou a estranha menina solitária e desconhecida que brilha os olhinhos por qualquer bobagem que passa desapercebida pela maioria.
Eu sou a solitária estranha menina que continua se apaixonando a cada minuto por cada fração de vida.
E agora, 20h20, fecho com duas conclusões:
1. Eu realmente sou uma das atrações da festa do pub e
2. Nunca fiz amigos correndo no parque, malhando na academia ou comprando lençóis.
Acho que me perdi.
E acabei de me achar.
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Escrito num caderno, repassado pro blog, sem cortes, sem alterações, pra ser o primeiro de muitos retratos das pequenas aventuras da menina flor colorada em um vasto mundo escoces.
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* Tá, a blusa é lilás e a saia é goiaba, uma combinação muito linda, mas pode me deixar com meu bairrismo?
** Ok, o chão dela é bem acima do meu e do teu, eu sei, mas pra alguém de 249 anos de idade, qualquer mexidinha de joelho é uma rebolada até o chão, né?
*** Minha avó é daorinha mesmo, hein, véi!
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