20130203

Há coisas que não se resumem.


São exatamente 22 horas no andar de baixo do puteiro da Scotch House, Scotch Quay, Waterford, República da Irlanda, Europa, Mundo. Acendi uma vela para meus Orixás e fiz um chá com leite pra não esquecer que estou do lado da terra da Rainha.
Se fosse filho, este post estaria no tempo certo de nascer. Faz 9 meses que não ponho meus dedos loucos nesse blog. E sim, tenho mil desculpas para isso. E sim, dentre essas desculpas, algumas são verdades um tanto difíceis de assumir.
Mas né? Quem é que veio aqui me ler pra saber de coisas ruins? Ninguém!
Eu rodei uns mundos por ai e vim parar aqui, na quinta cidade mais populosa da Irlanda. Na cidade mais antiga, o primeiro porto construído pelos ruivos vikings barbudos. A cidade ensolarada do sudeste irlandes que foi fundada aproximadamente 600 anos antes da terra Brazilis ser descoberta 'por acaso' pelo Cristovinho e sua trupe.
E sim, tem um bordel no andar de cima do meu apartamento! Eu e meu flatmate achávamos que os vizinhos eram ninfomaníacos até descorbrirmos a verdade. O mais engraçado de tudo é que nunca vi as moças nos corredores! Acho que é tipo um puteiro russo com escravas brancas sexuais sequestradas na América do Sul. Mas não vou me meter nessas tretas ai. Melhor ter a máfia russa como vizinha do que como inimiga.

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Bem, eu comecei a escrever este post há uma semana e hoje (domingo de grenal) continuo, depois de ter procrastinado o dia todo escrevendo atrasadamente um monte de emails resumindo minha vida por aqui. Um deles, o último, será copiado, retocado e publicado para maiores (e menores) esclarecimentos. 



Tô ainda engrenando na vida de estudos de novo, meu final de ano foi foda! Tipo, passava 12 horas na biblioteca! Loucura geral e total na Ilha Verde da magia! Tô ainda aperfeiçoando o inglês e não tô 100% fluente! Mas estou melhor a cada dia e feliz com o que sei. Se pegar tudo que estudei na minha vida inteira, desde colégio, uni e cursinhos aleatórios, nao dá metade do que estou estudando por aqui - generalmente falando!! Estou sofrendo por falta de emprego, falta de grana, falta de paixões avassaladores, mas estou contente por estar sendo responsável (na maioria das vezes) na facul, estar aprendendo a economizar de verdade e por não estar perdendo tempo com cara mané. Faço comida regularmente, bebo regularmente, me exercito regularmente, medito regularmente e faço merda esporadicamente. Às vezes me canso por minha vida estar tão boring, mas acho que isso é ser adulto, né? Ainda tenho crises existenciais com marketing/ publicidade, comigo mesma, com meu futuro e com meu passado. Ainda tenho dúvidas sobre o que fui, o que quero e o que farei de agora em diante. 
Mas nunca estive tão certa de muitas coisas do que fui, do que quero e do que farei de agora para sempre.Estou feliz com as mudanças internas que costumam refletir na cor do meu cabelo. Sempre gostei de trocar de roupa, de pele, de ser camaleoa. Mas como a vida não é só sorrisos ou orgulhos loucos, estou triste também. 
Estou triste por acordar sem gente espalhada pelo chão da minha sala. Estou triste por não ter minha família nos almoços de domingo. Estou triste por não poder tomar um sucão na lanchera. Estou triste por não poder ir ao estádio quarta-feira 21h45 e sofrer vendo um empate mirrado com o Vasco ou Avaí. Estou triste por não ver a vitória certa do Celtics contra tudo e contra todos. Estou triste por não poder ir no pub da esquina onde conheço até o marido da irmã do cantor das segundas-feiras. Estou triste por não ser aquela amiga que é chamada na madrugada pra um conselho amoroso. Estou triste por não conhecer nenhum sinuqueiro de plantão. Estou triste por esse minúsculo mundo ser tão grande e por ver que a distância às vezes não é dominuida pela internet. 
Estou triste de saudade, duma saudade que dói no peito e faz cósquinha no nariz. Mas sabe? Essa tristeza me alegra (e muito) no escurinho da noite. Por que no final das contas eu não estou triste de verdade. Só estou saudosa de umas certas felicidades que estão ali na Escócia, na França, na Suiça, no Brazil e no Rio Grande do Sul e que ainda não estão por aqui. 
Mas uma das coisas que eu aprendi nessas andanças pelo mundo é ter paciência, sabe? Essas pequenas felicidades virão. Aqui ou na próxima cidade, não importa. O importante é que elas virão. E eu nunca gostei do estático, babe, e nunca gostarei.  O que seria da vida se todos os momentos fossem alegres e se todas as rosas fossem vermelhas? Talvez seria essa vida adulta boring e sem graça onde não valorizamos aqueles pequenitos prazeres do amor e da amizade que fazem a gente sorrir sem nenhum motivo aparente. Ou talvez seria aquela vida onde tu não tem tempo de ver nuvens de coração no caminho de volta pra casa.