Então os planos mudaram. Outra vez.
O que era pra ser um ano, virou seis meses.
O que era pra ser um complemento, virou quebra.
O que era pra ser sonho, virou realidade.
A regra é simples: não se apaixone, guria. Mas a regra (como sempre) já era.
Completei três semanas de Barcelona e tenho que admitir que essa cidade é incrível. Arquitetura, paisagens, opções culturais e gastronômicas. Diversidade. Diversidade, multiplicidade, pluralidade, cidade.
No início, meu primo e namorada riam de mim quando eu dizia que tinha me perdido.
~ O que tu fez hoje, Márgara?
~ Ahh eu tentei ir no Parque Guell e me perdi. Acabei achando o Museu de Arte da Catalúnia e uma padaria marroquina.
Mas acho que depois eles entenderam que uma das melhores coisas pra se fazer aqui é se perder. É se perder nas vielinhas da Ciutat Vella e achar uma casa de chá no Born. É se perder indo pra praia e achar um antigo estádio de touradas. É se perder na rua paralela de casa e achar um hospital desenhado por Gaudí. É se perder e achar o que tu não sabia que procuravas.
Barcelona tem me feito isso. Tem me mostrado alguns caminhos novos, diferentes, loucos, trabalhosos. Tem me mostrado caminhos esquecidos, postos de lado, escondidos ou até mesmo aqueles que eu apenas deixei de trilhar. Barcelona é mágica pura. Não, não tem um cara tirando coelho da cartola em cada esquina. E não, não vi duendes com gorros verdes nem fadas vieram me jogar pózinhos brilhantes que me façam voar.
É uma sensação muito louca, estranha e maravilhosa sair a caminhar sem saber o que vai encontrar. Esses dias encontrei comigo mesma, sentada na beira da praia, lendo sobre fotografia e ouvindo Nina Simone. Fechei meus olhos e tive uma conversa séria sobre esses caminhos tortos. Guapa, tá na hora de parar de te perder de mim. Decidimos ir no bairro Gótico tomar uma caña para aprofundarmos o assunto. Sempre é bom sentar consigo mesma pra um papo. Conversamos, trocamos sorrisos, telefones e disfarçamos o rímel borrado no banheiro. Fomos pra casa juntas. Há tempos que não fazíamos isso.
Na manhã seguinte, recebi um email de uma amiga que amo que acabava assim:
Óh, aproveita o mundo aí e volta. D´us fez a gente nascer em determinado lugar não por acaso, ué! Que história é essa de ficar mudando o destino, brincando de D´us? É aqui que estão tuas raízes, tua família e teus amigos.
Foi bem num momento que tenho pensado muito sobre as coincidências da vida. E certamente, isso não foi uma simples coincidência. As coisas, babe, não acontecem por acaso. Não é por acaso que os planos dão errado. Não é por acaso que os planos dão certo. Não é nada por acaso. É tudo uma conspiração divina e mágica como resposta ao que tu mesmo perguntou. Ação. Reação. Ação de novo. Reação de novo. E tchê, não tô falando que o barbudo lá em cima, sentou em seu troninho voador nas nuvens de algoodão, bateu um papo com Gsus tomando vinho e decidiu que tu ia passar mal com a nega maluca estragada que tava na geladeira. Muito menos que as três velhinhas cegas largaram o mate pra tecer tua certeza momentânea de trair a mulher que tu amava. Não. E tu sabe muito bem disso.
No entanto, falarei sobre isso outro dia. Preciso ir pra rua, pro sol, pra areia, pra grama, pra vida. Ando preferindo sentar na praça ou na praia pra ler, escrever e me ouvir. Mesas, cadeiras, copos quebradiços e olhares barulhentos tem me incomodado um pouco. Talvez seja porque preciso de mais espaço para mim. Talvez tenha enjoado do sorriso fácil do balcão. Talvez porque tenha descoberto um caminho mais fácil de me encontrar. Talvez e talvez não.
Há muito caminho pela frente.
Ainda tenho muito onde me perder.
E quem sabe um dia eu consiga me achar.